segunda-feira, 15 de junho de 2015

A fé cristã é uma religião ou um relacionamento?


Este artigo faz parte da edição de junho de 2015 da revista Tabletalk.

Eu já ouvi pessoas dizerem que a Bíblia é apenas uma lista de “faça” e “não faça”. As pessoas que dizem isso nunca leram a Bíblia. A fim de combater esse tipo de pensamento, alguns cristãos rapidamente responderão afirmando que a Bíblia não é, de modo algum, uma lista de “faça” e “não faça”. Mas, ao fazerem isso, eles jogam fora o bebê junto com a água suja. Aqueles que já leram a Bíblia saberão que ela não é apenas uma lista de “faça” e “não faça”, nem apenas um manual de como fazer coisas, nem um mero guia para uma vida moral. Não obstante, a Bíblia de fato nos diz o que fazer e o que não fazer. Ela nos diz como viver a vida moral que agrada a Deus e nos fornece os preceitos divinos para toda a vida. A Bíblia não é apenas uma lista de “faça” e “não faça”, é muito mais do que isso – é o grande enredo de Deus, do seu reinado e da sua redenção. Não obstante, ela de fato contém as listas divinas de “faça” e “não faça”, a fim de que possamos saber como amar, obedecer, glorificar e nos deleitar em Deus.
O cristianismo não é uma religião de moralismo, é a religião do evangelho da graça. É uma religião estabelecida sobre um relacionamento. Não é uma coisa ou outra, é ambas – um relacionamento e uma religião. Essas coisas não são mutuamente exclusivas e fazemos bem ao não colocarmos uma contra a outra. O nosso relacionamento evangélico com Jesus Cristo, pela graça somente, por meio da fé somente, é o fundamento para a nossa religião do evangelho que abrange o todo da vida. O nosso relacionamento com Cristo naturalmente conduz à religião pura e sem mácula (Tiago 1.26-27). Religião é uma palavra útil que usamos para descrever a nossa fé cristã, a qual abrange cada aspecto da nossa vida cristã, arraigada e procedente de nossos novos corações e mentes espiritualmente regenerados e fundada no relacionamento que Deus estabeleceu conosco ao nos unir a Cristo. No século IV, Agostinho defendeu o uso da palavra latina religio enfatizando a sua etimologia religare, a qual significa unir-se ou vincular-se, como num vínculo pactual entre o homem e Deus. A palavra religião, compreendida corretamente, une tudo aquilo em que cremos à medida que a vivemos na prática em todas as áreas da vida. O teólogo reformado holandês Herman Bavinck escreveu: “Religião não pode ser apenas algo na vida de alguém, mas deve ser tudo. Jesus exige que amemos a Deus com todo o nosso coração, toda a nossa alma e toda a nossa força”.
A nossa religião está estabelecida sobre Jesus Cristo, que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la (Mateus 5.17). Cristo cumpriu todas as justas exigências da lei em sua vida, para que sua morte fosse uma perfeita expiação pelos nossos pecados. De fato, nós somos justificados por obras – as obras dele, não as nossas. Cristo guardou perfeitamente a lista de “faça” e “não faça” do seu Pai por nós. E ele o fez não para que possamos ignorar os mandamentos de Deus, mas para que não mais sejamos escravos do pecado, e sim escravos da justiça. Cristo nos liberta pela fé para que possamos dar frutos. Para ser claro, nós somos salvos pela fé, e não pelos frutos, mas nós não seremos salvos por uma fé infrutífera. A graça de Deus nos capacita e o seu Espírito nos sustenta, ajudando-nos em nossas fraquezas a perseguirmos a santidade, enquanto descansamos na santidade de Jesus Cristo. Pois, como Martinho Lutero disse: “A fé não pode deixar de fazer boas obras constantemente. Ela não para para perguntar se boas obras devem ser feitas, mas, antes que alguém pergunte, ela já as fez e continua a fazê-las sem cessar”.


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