De Frequentadores a Membros
Thabiti Anyabwile27 de Abril de 2015 - Igreja e Ministério
Um desafio prático que nós enfrentamos enquanto pastores é como encorajar um frequentador de igreja a tornar-se um membro de igreja ativo. Como devemos ajudar indivíduos a entenderem a necessidade e a alegria de pertencer a uma assembleia local de crentes?
Seis sugestões para estimular frequentadores a tornarem-se membros
Aqui estão seis sugestões. As quatro primeiras visam criar um ambiente no qual a membresia seja valorizada e compreendida. As duas últimas envolvem cuidar de indivíduos específicos que precisem fazer a transição de meros frequentadores para membros ativos.
1. Conheça os membros atuais.
Antes de podermos efetivamente conduzir pessoas de frequentadores a membros de igreja, precisamos conhecer nossos atuais membros. De outro modo, a ideia de “membresia” permanecerá amorfa até mesmo para o pastor que a promove.
Imagine convidar um visitante para jantar com você e sua família na noite de sábado. O visitante chega, esperando encontrar sua esposa e seus filhos, mas então você o conduz pela casa perguntando a todos os presentes seus nomes e se são visitantes também ou se moram ali. A tal “introdução” à sua família desmente por completo a reivindicação de ser uma família.
Do mesmo modo, quando falamos sobre pertencer a uma igreja local, precisamos ter em mente pertencer a uma família de pessoas em particular – pessoas reais, que se conhecem e se amam. Nós estamos convidando um frequentador a tornar-se parte dessa família viva e vivaz. O nosso convite tem rostos e nomes. Se nós conhecemos esses rostos, nomes e vidas, então estaremos mais aptos a introduzir o frequentador à família.
2. Expresse genuíno apreço pelos atuais membros.
Sinceramente, eu desperdicei essa oportunidade ao tornar-me pastor principal na First Baptist Church of Grand Cayman.[1] Cheguei cheio de zelo e pronto para pôr a mão na massa. Eu pretendia amar e servir as pessoas, mas falhei em reconhecer suficientemente que as pessoas da igreja estavam lá muito antes de eu chegar. Elas já estavam servindo ao Senhor de incontáveis maneiras. E não precisavam simplesmente do tipo de amor que eu desejava lhes dar. Elas precisavam de um tipo de amor que diminuísse o ritmo para ver o serviço deles, o tipo de amor que expressa genuína gratidão pela graça de Deus que já estava em operação neles.
Em vez disso, a congregação muitas vezes me ouviu fazer sugestões de melhoras e ideias de novos projetos. Isso demonstrava insatisfação e falta de apreço. Machuquei algumas pessoas e afastei outras. Algumas me concederam muita graça, presumindo que eu tinha boas intenções. E eu tinha. Mas a melhor maneira de expressar esses bons intentos teria sido demonstrando gratidão e apreço por tudo de positivo que eu visse.
Eu gostaria de ter dedicado os primeiros dois ou quatro anos de meu ministério para, de um modo específico, genuíno e insistente, encorajar, agradecer e demonstrar apreço pelas muitas pessoas maravilhosas e pelos muitos atos de serviço na igreja. Nós temos professores de escola dominical que têm servido por vinte anos consecutivos, indivíduos que silenciosamente têm cuidado de mães solteiras pobres, líderes que têm resistido a fortes tempestades durante anos de liderança, sobreviventes de câncer que enfrentaram a enfermidade com fé genuína, esposas e maridos que têm permanecido fieis a cônjuges descrentes e, às vezes, perversos, membros que têm ofertado alegre e sacrificialmente e tantos outros que têm buscado viver à semelhança de Cristo.
Se eu houvesse tido o cuidado de conhecer a congregação e de observar a sua fé em ação, teria acumulado anos de ilustrações para sermão, oportunidades para escrever notas de encorajamento e oportunidades para louvar a obra de Deus. E se eu houvesse usado essas ilustrações, escrito essas notas e expressado louvor pessoal e publicamente, teria estabelecido um clima de encorajamento, graça e gratidão. Isso teria não apenas edificado os membros existentes, mas também tornado a membresia atrativa ao frequentador. As pessoas desejam pertencer a grupos que as encorajam e estimulam. Igrejas e pastores deveriam ser melhores em fazer isso.
3. Apresente uma visão bíblica da vida cristã saudável.
Uma coisa que podemos presumir acerca do cristão que frequenta regularmente uma igreja, mas não se torna membro, é que a sua visão da vida cristã é de algum modo defeituosa.
Podemos presumir isso? Sim, porque as Escrituras dizem que a igreja local é o plano de Deus para o nosso discipulado e para a nossa maturidade espiritual (Efésios 4.11-16; cf. Mateus 28.18-20). Como seres sociais, nós precisamos de comunidade. Deus nos provê isso na igreja local, onde nos alegramos com os que se alegram, choramos com os que choram e demonstramos semelhante cuidado uns para com os outros (1 Coríntios 12.12-27).
Por razões que exigirão a investigação do pastor, o frequentador de igreja não abraçou completamente uma visão da vida cristã centrada na igreja. A nossa tarefa enquanto pastores é pregar e ensinar de uma maneira que apresente a visão bíblica da igreja local, tornando a igreja local bela e desejável ao povo de Deus.
Nós precisamos ajudar o frequentador – assim como os membros existentes – a entender o que significa estar “dentro” da igreja e por que estar “fora” não é saudável. Se não fizermos isso, os deixaremos com suas ideias incompletas acerca da igreja. Ou, o que é pior, podemos deixá-los pensando que o único “benefício” da membresia sejam a disciplina e o desprazer.
Nós podemos responder a essa necessidade pregando uma série temática sobre a igreja ou a comunhão espiritual. Ou podemos fazer uma caminhada mais longa por cartas como Efésios ou 1 Timóteo, nas quais a Bíblia apresenta imagens penetrantes da vida da igreja. Ou, enquanto expomos outros livros da Bíblia, podemos fazer aplicações relacionadas à membresia sempre que for legítimo, de modo que os membros e frequentadores vejam como a filiação e a comunidade perpassam toda a Bíblia. Em tudo isso, nosso desejo é apresentar uma visão elevada e atrativa da igreja local em toda a sua glória e confusão.
4. Fortaleça as fronteiras da igreja.
Uma das consequências de ensinar às pessoas os “dentros” e “foras” da membresia deve ser o fortalecimento das fronteiras entre a igreja e o mundo, ao restringir certas atividades aos membros.
Por toda a Escritura, a comunidade da aliança de Deus é separada do mundo. E ele dá à comunidade certas atividades, como a circuncisão ou a Páscoa, as quais, com seus outros propósitos, a distingue do mundo. As fronteiras entre Israel e o mundo deveriam ser claramente demarcadas e pertencer à comunidade da aliança assumia uma forma e um significado definidos. Era algo terrível ser “separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Efésios 2.12).
Mesmo organizações seculares e empresas têm regras sobre quem está “dentro” e quem está “fora”. No Natal, um dos meus presbíteros participou de uma confraternização natalina de escritório num restaurante local. Ele observou uma mesa onde alguns clientes bebiam. De tempo em tempo, um dos clientes passava uma caneca de cerveja pela janela do restaurante para outro homem do lado de fora. Depois ele descobriu que o homem do lado de fora estava proibido de entrar no restaurante por causa de comportamento inadequado no passado. Meu amigo presbítero riu alto, reconhecendo que até mesmo pessoas mundanas têm parâmetros de pertencimento e reservam certos benefícios aos que são de dentro.
Do mesmo modo, para que os frequentadores percebam a importância da membresia e para que os de fora da fé também vejam que estão “separados de Cristo”, as fronteiras entre a igreja e o mundo precisam ser reforçadas. Para esse fim, pastores e congregações devem identificar quais atividade e oportunidades são restritas a membros. Podem não membros ensinar na escola dominical? Podem participar do coral? Podem participar de pequenos grupos ou viajar com equipes missionárias? Você convidará cristãos professos que não sejam membros de nenhuma igreja local para participarem da Ceia do Senhor?
Decidir quais privilégios e responsabilidades pertencem apenas aos membros da igreja ajuda a demonstrar por que estar “dentro” importa e o que as pessoas perdem ao permanecerem de “fora” da membresia da igreja.
5. Faça o trabalho pessoal de responder objeções e encorajar as pessoas a tornarem-se membros.
Depois de trabalharmos por alguns anos a fim de criar um ambiente no qual a membresia seja valorizada e significativa, podemos realizar um trabalho pessoal muito mais efetivo com nossos frequentadores. De fato, esperamos que, havendo crescido em seu apreço pela igreja local, a própria congregação fará a maior parte do trabalho pessoal.
Esse trabalho pessoal envolve pelo menos duas coisas:
1. Desenvolver um modo de identificar e conhecer os frequentadores.
2. Responder as objeções do frequentador que o impedem de tornar-se membro.
Quando eu trabalhava com ativismo político,[2] nós utilizávamos uma ferramenta simples chamada de “diagrama de posições”. Um diagrama de posições era uma planilha que listava os principais atores políticos em uma coluna à esquerda e, no topo, a posição atual deles quanto a uma questão política em particular. Na forma mais simples, nós nomeávamos as posições deles de “forte oposição” a “neutro” a “forte apoio”. Enquanto lidávamos com esses atores políticos, observávamos como eles se movimentavam ao longo do espectro.
Quer os pastores criem um “diagrama de posições” num papel ou em suas mentes, eles precisam de um modo de identificar se os frequentadores têm “forte oposição” à membresia, “nunca pensaram no assunto” ou “planejam tornar-se membros na próxima semana”. Espera-se que a pregação e a comunidade farão o trabalho pessoal em muitos casos, especialmente entre os frequentadores que já estão motivados a tornarem-se membros. Mas, entre os frequentadores com dúvidas e hesitações, mais cuidado é necessário.
É aqui que o mandamento de “ser hospitaleiro” (Romanos 12.13; 1 Pedro 4.9) é de grande proveito em ajudar as pessoas a se comprometerem com a igreja. Lares abertos tendem a produzir corações abertos – ou, pelo menos, bocas abertas! Podemos passar de rápidas conversas depois dos cultos para discussões mais intencionais durante refeições. Se formos pacientes e cuidadosos nessas conversas, podemos pastorear o frequentador em meio a dores, desapontamentos, questões e temores que o afastam de um pertencimento com compromisso. O objetivo não é “ganhar” um debate sobre membresia, mas amar a pessoa de forma prática, em palavras e obras, até que o Senhor conceda luz e amor.
6. Encoraje o frequentador a estabelecer-se em outra igreja local, se não na sua própria.
Por fim, devemos nos lembrar de que o Senhor tem outros pastores e congregações fiéis. Devemos nos alegrar nesse fato. Não estamos em competição com essas igrejas, mas somos parceiros delas no evangelho.
Algumas vezes podemos encontrar um frequentador cujas objeções a tornar-se membro de nossa igreja se mostrem intransponíveis. Talvez ele discorde de nós acerca de alguma doutrina ou prática importante. Ou talvez more mais perto de outra congregação fiel e possa estar mais ativamente envolvido lá. Nesses casos, ajudar tais pessoas a passarem de frequentadoras a membros pode envolver ajudá-las a se juntarem a uma outra igreja que não a sua.
Isso pode ser delicado para algumas pessoas – especialmente aquelas que desenvolveram um vínculo com a igreja, mas que nunca se tornaram membros. Tais situações exigem paciência e empatia do pastor. Mas nós fazemos isso pelo bem do frequentador, desejando aquilo que sabemos ser a vontade de Deus para ele ou ela – a membresia ativa –, o que é infinitamente melhor. Estamos tentando promover o evangelho, não nossa própria igreja. Estamos tentando fazer os crentes crescerem, não o nosso rol de membros. Algumas vezes, isso significa ajudar indivíduos a tornarem-se membros em outro lugar, ao mesmo tempo que continuamos a pastorear o rebanho que o Senhor pôs sob nosso cuidado (1 Pedro 5.1-4).
Conclusão
É tentador para os pastores ficarem incomodados com aqueles crentes que frequentam a igreja, mas nunca se tornam membros. Podemos ficar frustrados quando coisas que nos parecem fundamentais são negligenciadas por outros. Precisamos guardar nossos corações da impaciência e da justiça própria. Enquanto dedicamos todo o nosso tempo aos nossos membros, porque somos responsáveis por eles de um modo mais específico, os frequentadores de nossa igreja também precisam de nosso ministério. Conduzir as pessoas de frequentadores a membros é uma oportunidade para amar. Num sentido real, isso é o ministério.
Notas:
[1] N.T.: Primeira Igreja Batista de Grand Cayman, em George Town, capital das Ilhas Cayman.
[2] N.T.: No original, policy advocacy (literalmente, “advocacia de políticas”), uma expressão que designa a atividade de gerenciar estrategicamente informações e conhecimentos para mudar e/ou influenciar políticas públicas. Trata-se de uma espécie de lobby(considerada lícita) em favor de certas causas sociais ou ambientais.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel
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